Origem e evolução de Alcoentre
Alcoentre foi concelho monoparoquial, da paróquia de Santa Maria de Alcoentre ou Nossa Senhora da Purificação de Alcoentre – do século XII ao século XIX. (1174 e 1836). Foram praticamente 700 anos da história de Alcoentre como concelho.
Alcoentre nasce como concelho e inicia assim o processo de formação da sua identidade e memória histórica, no contexto da conquista do território iniciada por D. Afonso Henriques, processo em que a expansão até à fronteira natural que o Tejo representava. Alcançado este limite em 1147 com a conquista de Santarém e Lisboa, tornou-se imperioso e urgente atrair povoadores que garantissem a ocupação e defesa, como forma de consolidar a conquista face ao poderio muçulmano que dominava a Sul dessa fronteira natural.
Essa política justificava o primeiro foral outorgado a Alcoentre por D. Afonso Henriques em 1174, em Coimbra. Com este outorgamento nascia formalmente mais um concelho no novo território português, e a geografia e termo ficava praticamente firmada, território e recursos governado segundo tradição pela assembleia de homens-bons do concelho que decidia sobre as coisas comuns e daí esse primeiro foral ser uma carta de aforamento aos moradores. Esta forma tão incipiente, mas tão perita e subtil de governança local teria durado cerca de um século até D. Dinis ter feito doação de Alcoentre ao seu filho D. Afonso Sanches e à sua mulher D. Teresa Martins, passando a ser terra senhorial de um donatário. Este senhor particular detinha a jurisdição integral que abrangia tanto o campo-político administrativo como jurídico-religioso. Durante 700 anos a jurisdição da Vila sempre esteve nas mãos dos sucessores de D. Afonso Sanches e de D. Teresa Martins, seus primeiros senhores donatários, primeiro na “casa” dos Condes e Marqueses de Vila Real até ao século XVI, altura em que passa por dote materno a Martim Afonso de Sousa, do qual descendem os Condes de Vimieiro, até à extinção da casa no séc. XVIII, altura em que Alcoentre volta à administração da Coroa.
É no século XIX que o concelho de Alcoentre conhece dois grandes momentos que marcam a sua derradeira história. Um primeiro momento é marcado pela expansão territorial e o aumento do número de paróquias que o passaram a constituir – Alcoentre, Manique do Intendente, Cercal Alguber e Figueiros – e um segundo momento que é o da sua extinção e integração no concelho de Azambuja. Aquela que fora a mais antiga unidade autónoma de administração e circunscrição local do atual concelho de Azambuja dava lugar à realidade contemporânea de freguesia.
Mas também os concelhos vizinhos foram alvo de reordenações. O decreto de 6 de Novembro de 1836, da responsabilidade de Passos Manuel, reduziu as unidades concelhias de cerca de oitocentas para pouco mais de 350, tendo sido favorável para Alcoentre, Azambuja e Cadaval que ganham novas freguesias. Alcoentre ganha as freguesias de Alguber, Cercal, Figueiros e Manique do Intendente. Cadaval passa a ter as freguesias de Bombarral e Carvalhal, que pertenciam a Óbidos. Azambuja ganhou as freguesias de Nossa Senhora do Rosário de Aveiras de Baixo, Nossa Senhora da Purificação de Aveiras de Cima.
Contudo em 1855 o concelho de Alcoentre, recentemente aumentado, acaba por ser extinto e é agregado ao concelho de Azambuja. Também o vizinho município de Cadaval é extinto em 1895, sendo as 9 freguesias que o constituíam anexadas aos concelhos vizinhos. Ao concelho de Azambuja coube as freguesias de Lamas, Cercal e Peral. Cadaval e Vilar foram anexadas a Alenquer, Pêro Moniz e Vermelha foram atribuídas a Óbidos e Alguber e Figueiros a Rio Maior. Após insistentes reclamações de Alenquer, Lamas passa a integrar Alenquer em Maio de 1986. Em 1898 o concelho de Cadaval volta ao seu formato inicial.